No recente Fórum Internacional das Indústrias de Defesa realizado na Ucrânia, o presidente Volodymyr Zelensky fez um discurso ambicioso, com metas estruturais para elevar a produção nacional e reduzir dependências externas. Ele afirmou que é necessário tornar “o custo da guerra absolutamente inaceitável” para o agressor, e apresentou estatísticas projetando avanço significativo em mísseis, drones, obuses fabricados internamente e exportações de armas ucranianas.
A trajetória da mensagem reflete uma combinação de mobilização simbólica e estratégia industrial.
Zelensky destacou que desde o início da invasão, a capacidade de produção nacional cresceu dez vezes e que agora 40 % dos armamentos utilizados na linha de frente já são de fabricação local. Entre as promessas figura a produção regular de drones interceptadores, o uso mais frequente de mísseis balísticos e a integração de plataformas de exportação via alianças internacionais. Esses compromissos buscam mostrar resiliência e autonomia frente a restrições externas.
Como Zelensky pretende alcançar isso?
Para tornar possível esse salto, o discurso enfatizou a cooperação com parceiros estratégicos da Europa, Estados Unidos e Oriente Médio. Zelensky afirmou que contratos de coprodução, transferência de tecnologia e envolvimento privado serão pilares centrais. No plano financeiro, mencionou que os recursos atuais são insuficientes e que mecanismos de financiamento externo devem suprir o gap para expandir a produção. Assim, a narrativa combina autossuficiência aspirada e dependência planejada.
No aspecto social, porém, o projeto enfrenta tensões internas. O governo necessita manter um efetivo militar ativo e robusto, composto por homens e mulheres, enquanto discute incrementos na mobilização. Recentes sondagens indicam desgaste no apoio público a recrutamentos forçados em comunidades mais atingidas. Há relatos de resistência discreta em regiões remotas, onde alistamentos impõem deslocamentos e pressões às famílias.
Casos de corrupção e denúncias de contratos irregulares também emergem como vulnerabilidades. Organismos de controle já apuram desvios em compras emergenciais, especialmente de componentes importados. Exemplos isolados têm sido usados por opositores para questionar transparência e eficácia das iniciativas industriais, mesmo enquanto a urgência bélica legitima aquisições aceleradas.
O que dizem os especialistas?
No cenário internacional, o discurso chega em momento de recalibração de apoio. Ao passo que alguns governos prometem pacotes adicionais de armas e capital, outros demonstram cautela, cobrando evidência de entrega e supervisão. Em Washington, segmentos políticos propõem condicionalidade e vigilância. Um ex-presidente americano sinalizou redução do escopo de assistência, em discurso que reforça a imprevisibilidade diplomática.
Economicamente, as metas industriais estimulam setores que podem gerar efeitos secundários positivos, metalurgia, eletrônica e tecnologia embarcada, mas exigem escala, logística, matéria‑prima e estabilidade energética. O desafio será compatibilizar produção de guerra com o funcionamento básico da economia civil, que sofre com cortes, interrupções e realocação de recursos.
Diplomaticamente, o enfoque na produção nacional pode reforçar estabilidade jurídica e atrair investidores que buscam contratos confiáveis. Por outro lado, a pressão por autosuficiência pode tensionar parceiros que esperavam maior dependência e lealdade. A nova postura pode redefinir alianças, aumentar exigência de auditoria e incutir competição entre fornecedores aliados.
O resultado das próximas etapas dependerá da execução, se o ritmo de entrega corresponder ao discurso, Zelensky fortalecerá sua posição interna e externa. Se os gargalos se ampliarem, por mobilização, recursos ou controle, a divergência entre promessa e realidade poderá gerar repercussão política. A guinada industrial pode emergir como peça chave no conflito, desde que navegada com realismo e capacidade operacional.