Em um movimento de forte repercussão diplomática, o Parlamento da União Europeia aprovou uma resolução que propõe a adoção de medidas severas contra Israel em resposta ao conflito na Faixa de Gaza. A decisão, que obteve o apoio de quase todos os grupos legislativos, reflete a crescente pressão dentro do bloco para uma postura mais incisiva diante da crise humanitária na região. A proposta representa um dos posicionamentos mais duros já tomados por uma potência ocidental contra o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, sinalizando uma possível mudança na dinâmica das relações internacionais.
A resolução aprovada estabelece um caminho para a suspensão parcial do acordo comercial vigente entre a União Europeia e Israel, uma medida com potencial para gerar impactos econômicos significativos. Além disso, o texto prevê a imposição de sanções direcionadas a figuras chave do governo israelense, incluindo ministros considerados extremistas, bem como colonos envolvidos em atos de violência. Essa abordagem busca pressionar diretamente os responsáveis pelas políticas em curso, ao mesmo tempo em que envia uma mensagem clara de desaprovação das ações militares e de ocupação.
Bandeiras da União Europeia em Bruxelas Foto: Yves Herman / REUTERS
Um dos pontos mais sensíveis e juridicamente complexos da proposta é a inclusão de uma referência explícita à investigação por “genocídio” que está em andamento no Tribunal Penal Internacional (TPI). Ao mencionar o caso, o parlamento europeu eleva o tom do debate e alinha sua posição às acusações formais que pesam sobre as lideranças israelenses. Essa menção, por si só, carrega um enorme peso simbólico e político, intensificando o isolamento de Israel no cenário global e dando respaldo institucional às investigações criminais internacionais.
A justificativa para uma medida tão drástica está fundamentada na alarmante crise humanitária em Gaza. Segundo dados citados no contexto da resolução, mais de 64 mil palestinos foram mortos desde o início do conflito, em outubro de 2023. Dentro dessa trágica estatística, um número que choca a consciência global é o de mortes causadas pela fome e desnutrição, que já somam 361 vítimas, incluindo 130 crianças, evidenciando o colapso das condições básicas de sobrevivência no enclave palestino.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tem sido uma das vozes a defender publicamente uma ação mais concreta por parte do bloco. Em discursos recentes, ela condenou veementemente o uso da fome como uma “arma de guerra”, afirmando que tal prática é inaceitável e precisa cessar imediatamente. Von der Leyen reconheceu que, embora a ajuda humanitária da UE a Gaza seja substancial, é imperativo que a Europa faça mais para proteger as vidas civis e garantir o cumprimento do direito internacional.
A aprovação da resolução no Parlamento, no entanto, é apenas o primeiro passo de um processo complexo e que enfrentará resistência. A implementação efetiva de sanções ou a suspensão do acordo comercial exigirá um consenso entre os 27 Estados-membros, e é sabido que existem divisões internas significativas sobre como lidar com o conflito. Países com laços históricos mais fortes com Israel podem apresentar objeções, o que pode levar a longas negociações e a uma versão potencialmente atenuada das medidas propostas.
A reação do governo israelense foi imediata e crítica, com autoridades afirmando que as iniciativas da União Europeia podem, na prática, encorajar o grupo militante Hamas. A liderança de Israel argumenta que tais pressões internacionais ignoram a complexidade do conflito e o direito do país de se defender contra ameaças terroristas. Essa divergência de perspectivas aprofunda o fosso diplomático entre Israel e uma parte importante da comunidade internacional, criando um cenário de incertezas para o futuro das negociações de paz.
Jonathan de Jesus, o Diálogo, Brasil.