Em busca de uma sociedade consciente

Tim Berners‑Lee reafirma por que distribuiu a web “de graça”

Criador da World Wide Web e um dos cientistas mais influentes da história da computação, o britânico Tim Berners‑Lee voltou a defender publicamente sua decisão de não patentear a tecnologia da internet e de torná-la acessível ao mundo inteiro sem cobrança de licenças. Segundo ele, esse gesto não foi filantrópico, mas estratégico: visava garantir que a web se tornasse um bem comum, livre de controle centralizado.

Berners‑Lee lembra que a proposta original da web surgiu em 1989, durante seu trabalho no CERN, como uma ferramenta para compartilhar informações entre pesquisadores. Em vez de transformar a invenção em um produto fechado, ele decidiu abrir o protocolo, permitindo que qualquer pessoa pudesse desenvolver navegadores, servidores e páginas sem pedir autorização ou pagar royalties.

Tela do computador, Alpha En, Pexels.

A estratégia deu certo. O crescimento exponencial da internet nos anos 1990 foi alimentado por padrões abertos, interoperáveis e de livre implementação. Isso permitiu que uma variedade de aplicações surgissem, de projetos educacionais a grandes empresas, sem que houvesse um monopólio técnico impedindo a inovação.

Atualmente, no entanto, Berners‑Lee expressa preocupação com a concentração de poder digital em poucas corporações. Segundo ele, as plataformas dominantes controlam dados, algoritmos e infraestrutura de forma a limitar a autonomia dos usuários e a concorrência. Ele defende a necessidade de descentralização como resposta à captura corporativa da rede.

Sua proposta inclui três pilares: privacidade embutida por padrão, controle total do usuário sobre seus próprios dados e a preservação da neutralidade da rede — ou seja, nenhum tipo de conteúdo deve ser favorecido ou prejudicado artificialmente por operadoras ou plataformas.

Laptop na mesa, Rakesh Kumar Swain, pexels

Berners‑Lee destaca ainda que a arquitetura aberta da internet é condição essencial para a democracia digital. Ao impedir a existência de barreiras técnicas e comerciais para a entrada de novas ideias, a web se torna um campo mais equitativo para inovação, participação política e circulação de conhecimento.

Em tempos de expansão da inteligência artificial e coleta massiva de dados, ele alerta para os riscos de aprisionamento tecnológico. Sem padrões abertos e auditáveis, os usuários tornam-se reféns de ecossistemas fechados, o que compromete não só a liberdade individual, mas a resiliência do sistema como um todo.

Ele defende que governos devem agir com firmeza para regular práticas anticompetitivas e impor regras de transparência às grandes empresas digitais. Isso não significa impedir negócios, mas garantir que as condições de competição, privacidade e governança sejam preservadas.

Berners‑Lee finaliza afirmando que o futuro da web não será decidido por algoritmos ou bilionários isoladamente, mas por decisões políticas e técnicas que envolvem toda a sociedade. Para ele, a internet continuará sendo um espaço livre apenas se for tratada como infraestrutura pública, não como propriedade privada.

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