O governo brasileiro passou a trabalhar com um cenário de sanções adicionais vindas dos Estados Unidos após a condenação de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal. A leitura em Brasília é que a retórica externa tende a se manter intensa no curto prazo, com foco em medidas dirigidas a autoridades específicas e, em hipótese menos provável, em frentes comerciais. O objetivo do Planalto é preservar previsibilidade e blindar a economia enquanto a relação bilateral atravessa um momento de atrito político.
O gatilho foi a decisão do Supremo, que consolidou a responsabilização penal de lideranças envolvidas na tentativa de subversão da ordem democrática. A reação de figuras influentes da política norte-americana elevou o tom do debate público e abriu espaço para iniciativas de pressão. Mesmo quando não há anúncio formal de sanções, declarações contundentes alteram expectativas e podem produzir efeitos reputacionais e de mercado.
Amizade verdadeira ou Complexo de vira-lata – Bolsonaro e Donald Trump: Brendan Smialowski / AFP
No cardápio discutido em Washington aparecem restrições de visto, bloqueio de ativos e listas de indivíduos sancionados. Em cenários mais duros, surgem propostas de barreiras comerciais temporárias, geralmente setoriais e de impacto concentrado. A equipe econômica brasileira monitora cadeias sensíveis e prepara planos de contingência para exportadores e importadores, com atenção a volatilidade cambial, custos de financiamento e prazos logísticos.
A resposta de Brasília mantém tom institucional e pró-Brasil. O Itamaraty reafirma que a independência dos Poderes e a observância da Constituição não são objeto de pressão externa. A posição oficial é clara: a condenação ocorreu em rito regular, com ampla defesa e colegialidade. Qualquer tentativa de tutelar o Judiciário brasileiro fere a soberania nacional e não contribui para a cooperação entre países que se reconhecem como democracias.
No curto prazo, a estratégia combina três eixos. Primeiro, contenção, para evitar que a disputa política transborde para áreas de cooperação consolidadas como comércio, clima, saúde e segurança. Segundo, diplomacia, com acionamento de canais diretos no Departamento de Estado e diálogo com congressistas para reduzir ruído e desestimular atos unilaterais. Terceiro, comunicação pública, a fim de explicar que defesa da legalidade não é pauta de governo, é obrigação de Estado.
Há também um componente regional a considerar. Países vizinhos acompanham a troca de sinais e tendem a apoiar investigações e julgamentos conduzidos por instituições nacionais, desde que amparados em devido processo. Movimentos de solidariedade jurídica e política no entorno sul-americano ajudam a baixar a temperatura e limitam incentivos a escaladas punitivas que punam a população mais do que indivíduos responsabilizados.
Imagem da capa: Donald Trump e Jair Bolsonaro em visita do brasileiro à Casa Branca em 2021 – Jim Watson – 12.jan.2021/AFP