Em busca de uma sociedade consciente

Petro pede processo contra Trump na ONU e afirma que chefes do narcotráfico vivem em Miami

No plenário e nos corredores da ONU, em Nova York, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, elevou o tom contra a política antidrogas dos Estados Unidos. Ele pediu processo penal contra Donald Trump pelos ataques de mísseis a embarcações no Caribe e questionou a eficácia de uma estratégia centrada em alvos marítimos. A leitura que emerge é a de um embate entre repressão de curto prazo e enfrentamento de estruturas financeiras que sustentam o crime.

Segundo Petro, as vítimas dos ataques não eram “chefes do narcotráfico”, mas jovens pobres que tentavam escapar da pobreza. O presidente colombiano enquadrou a operação como resposta desproporcional e politizada, colocando em debate a legalidade e a proporcionalidade do uso da força em águas próximas à Venezuela. O episódio adiciona tensão a um tabuleiro regional já pressionado por crises econômicas e disputas de influência.

A declaração mais dura recaiu sobre o papel de grandes centros urbanos. Para Petro, “traficantes de drogas vivem em Miami, Nova York, Paris, Madri e Dubai” e “moram ao lado da casa de Trump em Miami”. O argumento desloca o foco do mar para o circuito de capitais: lavagem de dinheiro, imóveis de luxo, empresas de fachada e redes de intermediação que operam de forma transnacional e se beneficiam de sistemas financeiros permissivos.

Colombian president Gustavo Petro speaks during the General Debate of the United Nations General Assembly at the UN headquarters in New York City on September 23, 2025. (Photo by Leonardo MUNOZ / AFP)

Na esfera diplomática, a fala produziu reações imediatas. Parte da delegação norte-americana deixou o plenário durante o discurso, gesto que sinaliza desconforto político e indica um ciclo de declarações contundentes nos próximos dias. Em paralelo, chancelerias da região acompanham o caso para medir impactos sobre cooperação policial, intercâmbio de informações e fluxos comerciais.

Do ponto de vista operacional, o contraste entre duas estratégias tende a pautar o debate: interdição de embarcações no Caribe versus estrangulamento financeiro das redes ilícitas. Defensores da primeira linha alegam efeito dissuasório e interrupção de remessas; críticos apontam que a cadeia de valor permanece ilesa se o dinheiro continua circulando e se convertendo em ativos legais. Esse dilema, reaberto por Petro, exige coordenação internacional além de ações isoladas.

Há ainda um componente doméstico na Colômbia. Ao vocalizar a crítica na ONU, o governo busca reposicionar sua política antidrogas, sustentando que métricas de apreensão e neutralização de alvos não refletem, por si só, redução sustentável do poder econômico do crime. O discurso tenta reorientar prioridades para rastreamento de capitais, transparência patrimonial e cooperação judicial com jurisdições que concentram ativos.

Para os Estados Unidos, o desafio será calibrar resposta política e jurídica. A pressão por resultados rápidos encontra limites na necessidade de base legal clara e de salvaguardas a civis. Já para vizinhos como a Venezuela, o episódio amplia narrativas de soberania e risco de escalada, exigindo prudência em operações que tangenciam fronteiras e direitos internacionais.

Se Washington mantiver silêncio institucional ou respostas protocolares, o episódio pode ficar restrito à retórica diplomática. Mas se Bogotá conseguir articular demandas jurídicas e parcerias para investigar fluxos financeiros, poderá transformar uma acusação simbólica em um processo real – e isso será um teste de consequências em um momento em que a geopolítica do narcotráfico depende menos de barcos e mais de bancos.

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