No centro da Assembleia Geral da ONU, o premiê israelense Benjamin Netanyahu declarou que Israel “terminará o trabalho” em Gaza. A promessa foi feita sob os olhos do mundo, num auditório dividido: parte dos diplomatas abandonou a sala em protesto silencioso, enquanto outra parte aplaudia de pé. A polarização reflete um cenário em que palavras e cifras convivem em tensão constante: segundo autoridades de saúde locais, mais de 65 mil pessoas já morreram no enclave palestino desde o início da ofensiva israelense.
O discurso reforçou a retórica de “resistência necessária” contra o Hamas, repetindo argumentos usados desde os ataques de 7 de outubro de 2023, quando militantes palestinos romperam fronteiras, mataram civis israelenses e sequestraram dezenas de reféns. Para Netanyahu, a guerra continua sendo uma resposta legítima e proporcional. Para críticos, no entanto, a narrativa de autodefesa perdeu a validade diante do volume de destruição e da indiscriminação dos alvos, que inclui escolas, hospitais e abrigos da ONU.
A fala do premiê chegou acompanhada de um novo colapso de popularidade internacional. Embora ainda conte com apoio de alguns aliados históricos, o desgaste é evidente. Em redes sociais e fóruns políticos, ressurgiu o termo “Bibi bomb”, apelido atribuído ao desenho de uma bomba de cartum que Netanyahu exibiu na tribuna da ONU em 2012. À época, a imagem foi alvo de críticas e ironias. Agora, volta como símbolo de uma diplomacia que opta pela retórica explosiva em vez de negociar caminhos sustentáveis.
Nos bastidores, cresce a circulação de um novo apelido entre críticos: “o Pequeno Homem-Bomba”, em referência ao tamanho diminuto de Israel em comparação com o impacto global de suas ações, e à insistência do premiê em uma guerra que parece ignorar a lógica diplomática e humanitária. A provocação tem como alvo não apenas Netanyahu, mas também os grandes países que mantêm silêncio ou oferecem apoio passivo à escalada.
A imagem recorrente é a de uma ordem internacional composta por “adultos” que permitem que crianças brinquem com fogo no quintal, incendiando o formigueiro onde vivem civis e trabalhadores inocentes. A metáfora, dura, busca escancarar a assimetria da guerra e a omissão dos que têm meios para contê-la, mas preferem as notas diplomáticas às ações concretas.
Em meio à ruína de Gaza e à impunidade de suas causas, cresce a cobrança por responsabilização. Para além das declarações, organizações internacionais pressionam por investigações independentes, sanções direcionadas e uma estratégia que priorize cessar-fogo humanitário, reconstrução e justiça para as vítimas. A continuidade do atual ciclo pode significar não apenas o colapso da política palestina, mas a erosão definitiva da legitimidade das instâncias multilaterais de paz.
Se os países centrais continuarem a tratar Gaza como um caso colateral e Netanyahu como um ator incontornável, a destruição seguirá sendo a única linguagem aceita no conflito. Mas se o sistema internacional, ainda que tardiamente, responder com investigações, bloqueios e responsabilização política, o episódio poderá marcar o fim da lógica da impunidade e o início de uma pressão real por paz. O que será escolhido, silêncio ou reação, determinará o rumo do Oriente Médio nos próximos anos.