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Maduro Convoca Milicianos na Venezuela para Aprender a Atirar e Defender o País

Em uma demonstração de força que eleva as tensões políticas na América do Sul, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, convocou os membros alistados na Milícia Bolivariana a se apresentarem nos quartéis de todo o país para receberem treinamento de combate. A ordem direta, emitida em um discurso inflamado, é para que os cidadãos aprendam “a atirar” e estejam preparados para defender a soberania nacional contra o que ele classifica como ameaças imperialistas, lideradas pelos Estados Unidos, que estariam cercando o país com um bloqueio militar e diplomático na região do Caribe.

A convocação tem como público-alvo a Milícia Bolivariana, uma vasta força paramilitar composta por civis leais ao chavismo, que atua de forma paralela às Forças Armadas regulares. Criada por Hugo Chávez e expandida sob o governo de Maduro, essa organização é um pilar fundamental da doutrina de “união cívico-militar” do regime. Ao mobilizar essa tropa ideologicamente alinhada, Maduro não apenas projeta uma imagem de prontidão militar, mas também reforça sua base de poder interno, exibindo um suposto apoio popular massivo para sua causa.

Membros das Milicia Nacional Bolivariana en Valencia (Venezuela). REUTERS/Juan Carlos Hernández

Segundo o discurso presidencial, a iniciativa é uma resposta direta a supostas provocações e ao assédio dos Estados Unidos, que, segundo Caracas, estariam usando a luta contra o narcotráfico como pretexto para posicionar recursos militares perto da costa venezuelana. Maduro afirma que quem deseja a paz precisa estar preparado para a guerra, justificando a mobilização de tanques, mísseis e, agora, de cidadãos armados, como uma medida dissuasória necessária para proteger o território venezuelano de uma eventual invasão ou intervenção estrangeira.

Este chamado às armas ocorre em um contexto de profundo isolamento internacional e de severa crise econômica e social dentro da Venezuela. Para muitos analistas, a medida serve tanto como uma mensagem para o exterior quanto para o consumo doméstico. Internamente, a mobilização busca desestimular a oposição e sufocar qualquer dissidência, criando um clima de prontidão para o conflito que unifica seus apoiadores e intimida seus adversários, apresentando qualquer crítica ao governo como um ato de traição à pátria.

Embora o governo fale em milhões de milicianos, generais reformados e especialistas militares consultados por agências internacionais estimam que o número de combatentes efetivamente treinados e bem armados seja consideravelmente menor, talvez na casa de algumas dezenas de milhares. A força é composta majoritariamente por funcionários públicos, aposentados e membros do partido socialista, cuja capacidade de combate real em um conflito convencional é questionável, mas cujo valor simbólico e de controle social é inegável para a manutenção do regime.

Apesar do tom beligerante e da retórica de guerra iminente, o evento em que a convocação foi feita teve um clima festivo, com Maduro cantando e dançando antes de seu discurso para uma plateia de jovens militantes. Essa dualidade entre a celebração partidária e a ameaça militar é uma característica marcante do chavismo, que busca constantemente mesclar a mobilização política com a demonstração de força, transformando atos de governo em espetáculos de propaganda para reafirmar sua legitimidade e poder.

A reação da comunidade internacional a mais essa escalada verbal e militar é de apreensão. Países vizinhos e potências globais observam com preocupação a mobilização de civis armados, temendo que isso possa desestabilizar ainda mais uma região já marcada por tensões. A medida pode aprofundar o isolamento da Venezuela, dificultando ainda mais as vias diplomáticas para a resolução da crise e reforçando a imagem de um regime entrincheirado e disposto a usar todos os meios para se perpetuar no poder.

Imagem da capa: O presidente venezuelano Nicolás Maduro – Foto: GettyImages

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