A LATAM anunciou a expansão da sua malha aérea nacional com a incorporação dos jatos E195-E2 da Embraer, sinalizando que poderá abrir de 25 a 30 novos destinos no Brasil nos próximos anos. A decisão amplia a estratégia de descentralização das rotas concentradas em grandes centros, com foco em cidades médias com potencial econômico e infraestrutura aeroportuária básica. Segundo a companhia, essa expansão permitirá aumentar a capilaridade de sua operação e melhorar a conectividade regional, especialmente em estados com baixa cobertura aérea, como Tocantins, Rondônia e parte do interior do Nordeste. O anúncio reforça a tendência de fortalecimento de mercados fora dos principais eixos, em resposta à demanda reprimida por voos diretos e a uma reorganização logística mais ampla que vem ocorrendo desde o pós-pandemia.
O contrato inicial prevê 24 aeronaves com entrega entre 2025 e 2027, e a LATAM terá opção de adquirir até 50 unidades adicionais, conforme o desempenho das rotas e a evolução do mercado interno. Os jatos da família E2 são conhecidos pela eficiência energética e operacional, características valorizadas num setor cada vez mais pressionado por metas ambientais e custos variáveis como o querosene de aviação. A empresa afirmou que os primeiros voos experimentais com os E195-E2 devem acontecer já no segundo semestre de 2025, e os estudos técnicos para definição das novas rotas estão em andamento. Esses estudos avaliam desde dados de demanda histórica até viabilidade de operação em pistas curtas, elemento crucial para a penetração em aeroportos regionais hoje pouco utilizados.
Com a nova frota, a LATAM busca não apenas ampliar seu alcance geográfico, mas também reforçar sua liderança no mercado doméstico, atualmente disputada com Azul e Gol. A Azul, por exemplo, já opera aeronaves da Embraer em voos regionais e possui forte presença em cidades médias, o que torna a entrada da LATAM um movimento de reposicionamento estratégico no segmento. A presença da Embraer nos dois lados da disputa evidencia a relevância da fabricante brasileira como provedora de soluções para aviação regional. A expectativa é que, com maior competição em rotas secundárias, haja pressão por redução de tarifas e melhoria na oferta de horários, beneficiando tanto passageiros quanto o turismo local e os negócios regionais.
A estrutura de custos da LATAM tende a se beneficiar da eficiência do E195-E2, que consome até 25% menos combustível que os modelos de geração anterior e tem menores níveis de ruído e emissão de CO₂. Além disso, o design dos novos jatos permite uma melhor utilização da cabine, com layout 2–2 e maior conforto aos passageiros em voos de curta e média duração. A empresa pretende adotar uma operação escalável, iniciando em rotas de maior densidade e depois ampliando para cidades com menor histórico de demanda, mas com potencial de desenvolvimento econômico. Municípios com universidades, polos logísticos ou hospitais regionais estão no radar da companhia.
A entrada em novos mercados exige também uma adaptação da infraestrutura terrestre e das equipes operacionais. Para viabilizar os novos voos, a LATAM deverá reabrir bases de tripulação, estabelecer contratos de manutenção local e firmar parcerias com empresas de apoio em solo, movimentando também a economia das cidades atendidas. A ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) acompanha o processo de autorização das rotas e tem estimulado o uso de aeroportos regionais por meio de políticas de incentivo e modernização das pistas. Governos estaduais, por sua vez, vêm sinalizando interesse em subsidiar taxas aeroportuárias como forma de atrair operações e dinamizar o turismo local.
A aposta em conectividade regional é coerente com os desafios logísticos do Brasil, onde longas distâncias e infraestrutura rodoviária precária dificultam o transporte de pessoas e mercadorias entre cidades de médio porte e grandes capitais. A nova malha pode facilitar o acesso da população a centros com maior oferta de serviços públicos, como saúde de alta complexidade e universidades federais, além de promover a descentralização de eventos corporativos e culturais. Há também expectativa de que pequenos produtores rurais e empresários locais possam se beneficiar de conexões mais rápidas com grandes centros de distribuição.
Além do ganho estratégico para a LATAM, o movimento reaquece o setor aeronáutico brasileiro e fortalece a Embraer como fornecedora global. Com sede em São José dos Campos (SP), a fabricante disputa mercado com empresas como Bombardier e Airbus nos segmentos de aeronaves regionais, e sua parceria com a companhia chilena reforça a presença da aviação brasileira em países vizinhos. A escolha do modelo E195-E2 também sinaliza a confiança da LATAM no desempenho técnico e comercial da aeronave, que já opera em países como Holanda, Portugal e Canadá. A empresa aposta na confiabilidade do avião e na flexibilidade de operação para garantir uma implementação eficiente e progressiva.
No curto prazo, os impactos sobre o consumidor devem ser sentidos nos próximos dois anos, à medida que novas rotas forem lançadas. A ampliação da oferta pode estimular a queda dos preços em cidades com pouca concorrência atual e também gerar opções mais rápidas de deslocamento que evitam escalas longas em hubs como Guarulhos ou Brasília. Além disso, a presença de voos regionais pode atrair novos negócios para cidades menores e impulsionar a geração de empregos, tanto no setor de aviação quanto em atividades indiretas como hotelaria, alimentação e transporte por aplicativo.
Se a LATAM conseguir manter a disciplina financeira, controlar os custos operacionais e consolidar a ocupação média nas novas rotas, o plano pode se traduzir em ganho de escala e maior estabilidade em sua operação no Brasil. Caso contrário, a companhia corre o risco de enfrentar gargalos semelhantes aos de outras empresas que tentaram ampliar rotas sem retorno sustentável. A chave estará no planejamento de médio prazo e na capacidade de ajustar a malha de forma dinâmica. Nesse processo, o papel da Embraer como parceira estratégica, dos aeroportos regionais como infraestrutura complementar e da regulação como facilitadora será determinante para que a aviação regional deixe de ser apenas uma promessa e se consolide como política de mobilidade nacional.