O mercado de robótica vive um rearranjo acelerado por IA generativa e por capital abundante para projetos de alto risco. Em 2025, duas jovens empresas em sigilo do Vale do Silício passaram a figurar no radar: a Rhoda AI e a Genesis AI. Elas não divulgam produtos ao público, porém documentos e relatos de investidores indicam cheques que já superam a marca somada de US$ 300 milhões, uma escala rara para empresas tão novas e ainda sem operações comerciais.
A Rhoda AI, baseada na região de Palo Alto e San Jose, levantou em abril uma Série A de US$ 162,6 milhões e acumula cerca de US$ 230 milhões. A avaliação aproximada seria próxima de US$ 1 bilhão, de acordo com bases de dados e reportagens especializadas. O projeto mira um robô bimanual de propósito geral, com ênfase em manipulação, coordenação fina e autonomia orientada por modelos de IA treinados em larga escala. A empresa segue em sigilo, mas registros de marca e perfis corporativos confirmam a existência do grupo.
A Genesis AI, por sua vez, estreou publicamente com uma rodada semente de US$ 105 milhões, codirigida por fundos de tecnologia. O plano declarado é treinar um modelo fundacional para robótica e aplicá-lo a um protótipo com dois braços e base sobre rodas. O conceito sacrifica bípedes complexos em troca de estabilidade e custo, mirando as primeiras tarefas em esteiras, picking e movimentação de caixas. A promessa é adaptar o mesmo cérebro para plataformas diferentes, reduzindo o tempo de integração em fábricas.

Qual é o motivo desse investimento?
O pano de fundo é um ciclo de capital que já coroou líderes claros. A Figure AI captou mais de US$ 1 bilhão em setembro e alcançou avaliação de cerca de US$ 39 bilhões, o que redefine expectativas de escala e acelera a competição por talentos em planejamento de movimento, visão computacional e simulação. Esse efeito puxador tende a baratear componentes e atrair novos fornecedores de atuadores, mãos robóticas e baterias.
Para os primeiros clientes, o interesse não é só a forma humana. O que conta é retorno em tarefas reais, com menos reprogramação e mais reutilização de habilidades. Por isso, além da mecânica, a corrida está no software: teleoperação assistida por IA, aprendizagem por imitação e ajuste fino a partir de dados captados em campo. As novas empresas apostam que um modelo amplo, combinado a controle clássico, entrega a robustez que faltava nas tentativas anteriores.
Ainda assim, há limites. Ciclos de validação em segurança funcional, custo por hora de trabalho e durabilidade em três turnos continuam sendo os gargalos. Gestores de operação pedem contratos com metas objetivas de uptime, troca rápida de módulos e integração com sistemas legados. Sem isso, pilotos ficam confinados a demonstrações, longe do piso de fábrica e do varejo.
O que se pode esperar?
Do lado regulatório, normas para colaboração homem-máquina exigem sensorística redundante, limites de força e paradas seguras. Seguro e responsabilidade civil entram na conta. Empresas em sigilo costumam adiar apresentações públicas até cumprir marcos internos de risco, o que explica a escassez de vídeos ou specs oficiais neste estágio.
O impacto econômico, se confirmado, começa por tarefas de baixa variação e alto volume, típicas de centros de distribuição, backrooms e linhas de testagem. A médio prazo, a ambição é expandir para montagem leve, inspeção e serviços internos. Países com cadeias industriais maduras tendem a absorver pilotos primeiro, mas fornecedores brasileiros acompanham a onda em logística e e-commerce, com potencial de parcerias para integração local.
Em síntese, o dinheiro grande chegou antes da padronização técnica. Isso acelera a tecnologia, porém cobra disciplina na entrega. A próxima etapa será menos sobre vídeos e mais sobre contratos com métricas de produtividade, segurança e custo total de propriedade.



