O governo federal conseguiu reverter a proibição inicial à comercialização de açaí e de outros itens da culinária paraense nas áreas oficiais da COP30, que ocorrerá em novembro, em Belém. A decisão encerra dias de tensão entre organizadores e autoridades locais, que vinham apontando o impacto econômico e simbólico de excluir o principal cartão-de-visita gastronômico do estado.
A restrição constava de um edital técnico da organização responsável pela contratação de restaurantes e quiosques do evento. O texto classificava como de alto risco sanitário a venda de produtos como açaí in natura, tucupi, maniçoba e sucos de frutas frescas, prevendo a retirada desses itens do cardápio. A medida gerou reação imediata de entidades regionais, profissionais da alimentação e do poder público.
Novo ministro do Turismo, Celso Sabino (União-PA) na Câmara dos Deputados. — Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Após o apelo do governo brasileiro, a organizadora voltou atrás e emitiu uma errata com nova orientação. A mudança libera a presença dos pratos típicos, condicionada a protocolos de segurança alimentar e de manipulação. A sinalização política foi acompanhada de diálogo técnico para ajustar critérios de fornecimento, armazenamento e certificação.
Para Belém e para o Pará, o recuo tem peso que vai além do paladar. A cadeia do açaí sustenta milhares de produtores e trabalhadores em atividades de colheita, processamento e venda, integrando arranjos produtivos locais e o turismo gastronômico. Em uma conferência climática sediada na Amazônia, valorizar produtos regionais se converte em mensagem de coerência com o território anfitrião.
No campo sanitário, especialistas lembram que o risco existe quando faltam boas práticas de produção e controle. A solução apontada por autoridades e fornecedores passa por rastreabilidade, treinamento de equipes e cumprimento rigoroso de regras de higiene, com fiscalização ativa durante todo o evento. O objetivo é conciliar identidade cultural com segurança para delegações e público.
O episódio expôs a tensão recorrente entre padronizações importadas e realidades locais. Editais que ignoram especificidades regionais tendem a produzir distorções, afetando cadeias econômicas e a percepção internacional do país anfitrião. O ajuste de rota, desta vez, reafirma que boas normas podem ser inclusivas e exigentes ao mesmo tempo.
Do ponto de vista diplomático, a correção evita ruído num momento em que o Brasil busca projetar liderança em clima, bioeconomia e transição energética. Uma conferência que celebra a floresta também precisa refletir a sociobiodiversidade na alimentação, na logística e na experiência oferecida aos participantes que virão de dezenas de países.
Para comerciantes e cozinhas paraenses, a liberação chega com a responsabilidade de entregar qualidade e conformidade. Cumprir etapas de certificação, padronizar procedimentos e dialogar com a fiscalização será determinante para transformar a polêmica inicial em vitrine positiva, com potencial de legado para além do calendário da conferência.
Em síntese, o recuo do veto preserva a cultura alimentar local, protege renda e empregos e reforça a credibilidade do evento. Com regras claras, fiscalização presente e fornecedores comprometidos, a COP30 pode servir pratos que contem a história da Amazônia e, ao mesmo tempo, atendam às melhores práticas de segurança alimentar.
Fontes: Jonathan de Jesus, o Diálogo, Brasil.
Capa: açai – fundacaocargill (reprodução)