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China reduz emissões com boom da energia solar, mas carvão ainda desafia a transição

A queda das emissões de dióxido de carbono na China no primeiro semestre de 2025 consolidou um ponto de inflexão que analistas vinham antecipando desde 2024. O recuo de 1 por cento em relação ao mesmo período do ano anterior ocorreu mesmo com a demanda elétrica em alta. O fator decisivo foi a expansão histórica de geração limpa, especialmente a solar, que cobriu o crescimento do consumo e permitiu reduzir a produção a carvão no sistema.

Os dados mais detalhados sugerem que a mudança não foi episódica. Estudos independentes indicam que as emissões vinham desacelerando desde março de 2024 e entraram em trajetória de queda ao longo de 2025. Na comparação anualizada, a matriz elétrica chinesa passou a incorporar tanta energia solar e eólica que a oferta adicional de fontes fósseis deixou de ser necessária para acompanhar a carga, algo raro no passado recente.

(Imagem: DS New Energy/Reprodução)

Ainda assim, o quadro é ambivalente. A China segue aprovando e construindo térmicas a carvão em volumes elevados, embora com sinais de moderação em 2024. Essa capacidade costuma ser justificada como seguro de confiabilidade em picos de demanda, mas pressiona metas climáticas e pode criar ativos subutilizados no médio prazo. A velocidade do reforço de redes, armazenamento e gestão de ponta decidirá se o carvão continuará sendo muleta ou se voltará a cair de forma consistente.

Há elementos estruturais sustentando o avanço renovável. O país lidera a instalação de capacidade solar desde 2023 e, em 2025, a soma de eólica e solar já rivaliza com a termelétrica em potência instalada. A ofensiva industrial em baterias e a ampliação de usinas de bombeamento reverso adicionam flexibilidade ao sistema. Se a integração de transmissão e armazenamento acompanhar o ritmo, o setor elétrico tende a manter a tendência de emissões mais baixas.

No plano internacional, a queda de emissões da maior economia emissora altera expectativas para a COP30. Uma trajetória de baixa contínua fortalece a posição chinesa na negociação de metas e cria espaço para exportação de soluções tecnológicas. O contraponto é que novos blocos de carvão em operação enfraquecem a narrativa de liderança climática e podem atrasar o pico e a queda estrutural de emissões fora do setor elétrico.

Para além das manchetes, o que importa é a consistência. A combinação de expansão renovável, redes reforçadas, armazenamento e revisão do pipeline de carvão pode transformar uma queda pontual em nova tendência. Sem isso, o risco é a volatilidade voltar a ditar o mix. O semestre encerra com um saldo promissor, mas o teste real virá com a gestão dos próximos anos de demanda, clima e industrialização verde.

Fontes:

Jonathan de Jesus, o Diálogo, Brasil.

Capa: Usina solar em Haixi: a potência asiática investe cada vez mais em fontes renováveis de energia (Ma Mingyan/Getty Images)

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