A China anunciou nesta quarta-feira (25) que pretende reduzir entre 7% e 10% de suas emissões de gases de efeito estufa até o ano de 2035, tomando a dianteira entre os países que apresentaram novos planos climáticos paralelamente à Assembleia Geral da ONU. O presidente Xi Jinping formalizou o compromisso por meio de uma mensagem transmitida de Pequim, destacando que essa é a primeira vez que o país se compromete com uma meta de corte absoluto, e não apenas com a desaceleração do crescimento das emissões.
O gesto visa preencher o vácuo deixado pelos Estados Unidos no debate climático global. Um dia antes, o presidente Donald Trump rejeitou a ciência climática em seu discurso na ONU, chamou cientistas de “estúpidos” e criticou abertamente países que investem em transição energética, entre eles, a própria China e membros da União Europeia. Xi não mencionou Trump diretamente, mas declarou que, mesmo diante do abandono de alguns países, a comunidade internacional “deve se manter no curso traçado pelo Acordo de Paris”.
O Acordo, firmado em 2015, estabelece o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5 ºC e obriga os países a revisarem periodicamente seus compromissos nacionais de redução de emissões. A fala do presidente chinês, embora modesta em termos numéricos, representa um marco geopolítico: é a tentativa mais explícita de Pequim de assumir protagonismo na diplomacia climática, enquanto Washington opta por um novo ciclo de negação e isolamento.
O anúncio de Xi Jinping foi seguido por um apelo do secretário-geral da ONU, António Guterres, que conclamou todos os signatários do Acordo de Paris a apresentarem planos mais ambiciosos e mais rápidos para a década que se inicia em 2025. Segundo ele, o atual ritmo é “insuficiente” e a janela para manter a meta de 1,5 ºC “está se fechando rapidamente”.
Apesar da expectativa gerada, grupos ambientalistas e analistas climáticos criticaram a meta chinesa por considerarem que ela não se alinha à trajetória necessária para conter o aquecimento dentro dos limites acordados. Para manter a consistência com o objetivo de 1,5 ºC, segundo especialistas, a China deveria anunciar cortes de pelo menos 30% até 2035. A resposta oficial do governo chinês tem sido a de que a meta anunciada é compatível com a realidade de um país em transição, que ainda depende significativamente de carvão para sustentar sua base energética.
Em paralelo, o governo norte-americano anunciou uma nova retirada dos EUA do Acordo de Paris, a segunda sob Trump, reabrindo o ciclo de incertezas sobre o engajamento da maior economia do mundo com os esforços multilaterais de contenção da crise climática. O gesto foi lido como mais um elemento de ruptura com a ONU e com o sistema internacional baseado em regras.
A distância entre os discursos evidencia a disputa simbólica pelo comando da agenda climática nas próximas décadas. Enquanto Washington recua, Pequim tenta moldar a governança verde com foco em transição industrial, financiamento climático e cooperação tecnológica. No entanto, sem metas setoriais claras e cronogramas de implementação verificáveis, mesmo os anúncios mais ousados correm o risco de se diluir no tempo.
Se a China quiser consolidar sua posição como líder na nova diplomacia do clima, terá de avançar na substituição de termelétricas a carvão, na expansão acelerada de fontes renováveis e no alinhamento regulatório que permita verificar os cortes prometidos. Do lado norte-americano, o novo ciclo de negação tende a isolar o país em rodadas futuras de negociação, com impacto direto na competitividade industrial e no acesso a mercados regulados por padrões de emissões
Se os anúncios desta semana forem seguidos de calendários setoriais, compromissos orçamentários e mecanismos de verificação internacional, a disputa climática poderá migrar do campo simbólico para o operacional. Caso contrário, o contraste entre o retrocesso americano e a promessa chinesa se limitará à retórica e o mundo seguirá rumo a 2035 sem saber se assistiu a uma virada estratégica ou apenas a mais um capítulo de expectativas frustradas