Os lucros das indústrias chinesas voltaram a crescer após meses de resultados mistos. Dados oficiais apontam avanço de 0,9% no acumulado de janeiro a agosto, enquanto somente no mês de agosto o salto foi de 20,4% em relação ao mesmo período de 2024. A reversão do quadro anterior, que apontava queda em julho, trouxe alívio para as autoridades em Pequim e para analistas de mercado atentos aos sinais de recuperação do segundo maior PIB do mundo.
Apesar da melhora, persistem desafios estruturais na economia chinesa. A demanda doméstica segue fraca, pressionada por incertezas no mercado de trabalho e pela deterioração do setor imobiliário. A cautela do consumidor e os ajustes regulatórios em áreas estratégicas também limitam o apetite por investimentos. Pequim tem dosado estímulos econômicos com parcimônia, evitando medidas que comprometam a estabilidade financeira.
Setores com excesso de capacidade, como automóveis e energia solar, enfrentam margens apertadas mesmo com repressão às chamadas guerras de preços. A atuação do governo nesses segmentos ajudou a conter a deflação ao produtor, mas não resolveu os gargalos de competitividade. A política industrial busca elevar a eficiência sem permitir novas bolhas.
O crescimento do lucro foi desigual entre os grupos empresariais. As empresas estatais registraram queda no período, enquanto as companhias privadas avançaram e as estrangeiras tiveram leve recuperação. O resultado revela o impacto distinto de políticas setoriais e medidas administrativas sobre diferentes tipos de controle societário.
Em meio às tensões comerciais com os Estados Unidos e seus aliados, empresas de tecnologia e de manufatura avançada têm tentado ampliar a presença em mercados alternativos. No entanto, as incertezas globais e as restrições ao acesso a tecnologias estratégicas limitam o potencial de expansão de muitas dessas companhias.
Os números de agosto animaram as projeções de curto prazo, mas não afastam preocupações com a desaceleração do varejo e da produção industrial. A recuperação ainda é frágil e depende de medidas eficazes para estimular a confiança do consumidor e evitar uma recaída no crescimento.
O mercado de commodities acompanhou com atenção os dados industriais chineses. A retomada parcial da atividade sugere demanda mais estável para o restante do ano, embora o movimento ainda seja puxado por compras oportunistas, em vez de uma tendência consolidada de reposição de estoques.
Do ponto de vista monetário, o Banco Popular da China tende a manter uma postura cautelosa. Cortes pontuais de juros seguem no radar, mas são calibrados para evitar fuga de capitais e pressões sobre o câmbio. Decisões do Federal Reserve americano também influenciam a margem de manobra do banco central chinês.
O grande teste será saber se o avanço dos lucros se traduzirá em maior geração de emprego e renda. Essa é uma condição necessária para reverter o pessimismo doméstico e sustentar um ciclo virtuoso de crescimento. Sem isso, o impulso positivo de agosto poderá ser apenas um ponto fora da curva.