O diagrama do triângulo do crescimento cruza três variáveis que sustentam poder econômico de longo prazo: área acima de 2 milhões de km², população superior a 100 milhões e PIB maior que 1 trilhão de dólares. Apenas cinco países reúnem as três, e o Brasil é o único do hemisfério sul nesse núcleo. Isso confere posição logística rara no Atlântico Sul, acesso simultâneo a mercados das Américas e da África e margem para política externa mais autônoma. Diferentemente de economias menores, o país pode combinar mercado interno robusto com vocação exportadora sem depender de um único parceiro.
Na comparação direta, o Brasil apresenta vantagens estruturais frente a outros grandes. Em energia, parte de uma matriz elétrica majoritariamente renovável, o que reduz custo de descarbonização de indústrias intensivas. Em alimentos, lidera cadeias com produtividade elevada em grãos, proteínas e florestas plantadas. Em recursos, dispõe de água doce, terras agricultáveis e minerais estratégicos. Essa combinação reduz vulnerabilidades recorrentes de rivais que precisam importar energia, água ou alimentos para sustentar crescimento.
Além disso, o mercado doméstico cria amortecedor de ciclos globais. A base de consumidores, o ecossistema financeiro digitalizado e a difusão de pagamentos instantâneos favorecem inovação em varejo, serviços e indústria leve. Enquanto China e Índia administram populações muito maiores e desafios urbanos extremos, e EUA e Rússia carregam agendas geopolíticas custosas, o Brasil pode capturar a onda de reindustrialização verde com menor risco energético e reputacional, desde que alinhe marcos regulatórios e crédito de longo prazo.

Qual é o papel dos BRICS?
O papel dos BRICS é central nessa equação. Quatro dos cinco países do núcleo de escala pertencem ao grupo, o que dá densidade a uma agenda de finanças, comércio e infraestrutura fora do eixo tradicional. A ampliação de bancos de desenvolvimento, o uso de moedas locais em contratos e a coordenação de investimentos em logística tornam mais previsível o financiamento de projetos brasileiros. Para o setor privado, isso significa mais janelas de capital e acesso a mercados que crescem acima da média mundial.
No comércio, a diversificação via BRICS reduz a dependência de um único bloco e melhora termos de barganha. Contratos de longo prazo para alimentos, energia de baixo carbono e minerais críticos podem ancorar novas plantas industriais no país. Ao mesmo tempo, acordos técnicos em padrões, certificações e dados facilitam exportações de serviços e tecnologia. Para capturar esses ganhos, o Brasil precisa acelerar facilitação de comércio, portos mais produtivos e conexões ferroviárias para o Arco Norte, encurtando rotas para a Ásia e para a África.
Há espaço ainda maior em energia limpa. O potencial eólico e solar do Nordeste, a biomassa no Centro-Sul e o gás associado em províncias maduras permitem desenhar parques industriais de baixo carbono. A cadeia de biocombustíveis, SAF para aviação e hidrogênio de baixo carbono pode atrair siderurgia verde, química e fertilizantes. Diferentemente de concorrentes que precisarão importar energia limpa, o Brasil pode produzir, consumir e exportar certificados, reduzindo o custo total de propriedade de novas fábricas.
O Impacto na economia real
Na economia real, a transição tecnológica demanda cobre, níquel, manganês, grafite e nióbio, além de celulose avançada e ingredientes de base biológica. O país já possui clusters competitivos e pode subir degraus no valor agregado com política de conteúdo tecnológico, metas de produtividade e compras públicas direcionadas. Se alinhar licenciamentos céleres e proteção socioambiental eficaz, a vantagem natural vira vantagem competitiva, com menos litígio e mais previsibilidade de cronograma.
Do lado institucional, o Brasil tem trunfos quando garante estabilidade macro e reformas pró-produtividade. Tributação mais simples, securitização de créditos de infraestrutura, marcos de saneamento e conectividade digital ampliam a taxa interna de retorno de projetos. Em paralelo, alfabetização plena, ensino técnico e validação rápida de competências podem reduzir gargalos de mão de obra. Essas entregas são menos vistosas do que anúncios, porém decidem a velocidade com que investimentos saem do papel.
Por fim, a próxima década deve ser marcada por reconfiguração das cadeias globais e por disputa por ativos verdes. Países que oferecem escala, energia limpa e segurança alimentar tendem a receber capital paciente. O Brasil reúne essas três peças e integra um bloco que concentra população, território e crescente participação econômica. Se transformar abundância em produtividade, e influência diplomática em contratos de longo prazo, pode crescer acima da média mundial, consolidando posição de fornecedor confiável de energia, alimentos, dados e manufaturas de nova geração.



