O Brasil está posicionado para se tornar um dos líderes globais na nova economia verde, com um potencial estimado para abocanhar uma fatia de 20% de todo o mercado mundial de créditos de carbono. A projeção, feita por Plínio Ribeiro, conselheiro da Ambipar, uma das maiores multinacionais brasileiras de soluções ambientais, destaca uma oportunidade econômica monumental para o país. Caso essa participação se concretize, ela poderia injetar dezenas de bilhões de reais na economia nacional, transformando o setor ambiental em um dos principais pilares do desenvolvimento brasileiro nas próximas décadas.
Este mercado emergente, que deve movimentar cerca de 50 bilhões de dólares nos próximos 30 anos, funciona como uma ferramenta financeira crucial no combate às mudanças climáticas. Nele, empresas e países que não conseguem atingir suas metas de redução de emissão de gases de efeito estufa podem comprar “créditos” de nações que preservam suas florestas ou desenvolvem projetos de energia limpa. Para o Brasil, dono da maior floresta tropical do planeta e com uma matriz energética predominantemente renovável, o potencial de geração desses créditos é simplesmente imenso.
Plínio Ribeiro, CEO da Biofílica: executivo trabalha com administração de florestas desde 2006 (Biofílica/Divulgação)
Segundo Ribeiro, a criação de um novo marco legal para o setor no Brasil será o catalisador para acelerar o ganho de escala e destravar os investimentos. A regulamentação permitirá a integração entre o mercado voluntário, que já existe, e o mercado regulado, criando um ambiente de negócios mais seguro e previsível. Essa clareza jurídica é fundamental para atrair o capital necessário para financiar em larga escala os projetos de conservação florestal, reflorestamento e outras soluções inovadoras baseadas na natureza.
O sucesso brasileiro nesta empreitada, no entanto, dependerá de uma governança extremamente cuidadosa e transparente. Será crucial definir com clareza os limites de emissão para os diferentes setores da economia e investir em sistemas robustos para monitorar, reportar e verificar a autenticidade dos créditos de carbono. Evitar práticas problemáticas, como a dupla contagem de créditos — quando o mesmo crédito é vendido ou contabilizado mais de uma vez —, será vital para garantir a credibilidade e a integridade do mercado brasileiro no cenário internacional.
A grande aposta é que o setor florestal se transforme em um poderoso vetor de desenvolvimento econômico e social, especialmente em regiões remotas do país. A meta de restaurar 12 milhões de hectares de florestas, por exemplo, não apenas geraria uma quantidade massiva de créditos de carbono, mas também criaria uma nova cadeia de empregos verdes, impulsionando o desenvolvimento rural e oferecendo alternativas econômicas sustentáveis para comunidades que hoje dependem de atividades com alto impacto ambiental, como o desmatamento.
A realização da COP30, a conferência climática da ONU, em Belém (PA) em novembro, é vista como uma vitrine estratégica para o Brasil. O evento colocará o país no centro das discussões globais sobre o clima e será a oportunidade perfeita para apresentar ao mundo as soluções inovadoras e o potencial de liderança do agronegócio e do setor privado brasileiro. A expectativa é que, durante a conferência, o Brasil possa firmar parcerias e atrair os investimentos necessários para consolidar sua posição de protagonista na economia de baixo carbono.
Em resumo, o caminho para o Brasil se tornar uma superpotência no mercado de carbono está traçado, combinando vantagens naturais incomparáveis com a expertise de um setor privado inovador. A concretização desse potencial, contudo, exige ações decisivas do poder público na criação de um ambiente regulatório seguro e na implementação de políticas eficazes de combate ao desmatamento. Se bem-sucedido, o país não apenas cumprirá um papel vital no equilíbrio climático do planeta, mas também colherá frutos econômicos e sociais duradouros.
Fontes:
Jonathan de Jesus, o Diálogo, Brasil.
Capa: Plínio Ribeiro da Ambipar Environment na COP26 em Glasgow, Escócia.- biofilica