A capital da Ucrânia e diversas outras cidades do país foram alvos de um novo ataque aéreo massivo na madrugada deste domingo. Segundo autoridades locais, essa foi uma das ofensivas mais intensas desde o início do ano, com centenas de drones explosivos e mísseis balísticos lançados em múltiplas direções. A força de defesa antiaérea interceptou grande parte dos vetores, mas alguns conseguiram romper o sistema e atingir áreas residenciais e instalações civis. Em Kiev, os alarmes soaram por mais de quatro horas consecutivas, enquanto moradores buscavam abrigo nos metrôs e estacionamentos subterrâneos. O ataque matou ao menos seis pessoas e deixou dezenas de feridos, além de interromper serviços básicos em alguns bairros da cidade.
O governo ucraniano classificou a ofensiva como uma tentativa de “paralisar a vida civil” e de “testar a exaustão” da rede de defesa aérea do país. O presidente Volodymyr Zelensky usou suas redes para afirmar que o ataque teve como alvo não apenas instalações estratégicas, mas também escolas, hospitais e redes de distribuição elétrica. Segundo ele, a Rússia está intensificando o uso de “táticas de saturação”, com enxames simultâneos de drones e mísseis para sobrecarregar as defesas. Fontes militares informaram que, nas últimas 24 horas, foram detectadas mais de 200 aeronaves não tripuladas cruzando o espaço aéreo ucraniano, com parte delas disparando projéteis termobáricos e ogivas de fragmentação.
As autoridades locais também relataram explosões em Kharkiv, Odessa e Dnipro, onde prédios residenciais foram parcialmente destruídos. Na província de Lviv, próxima à fronteira com a Polônia, os ataques causaram danos a estações de energia, o que comprometeu o fornecimento elétrico para mais de 150 mil pessoas. Em algumas regiões do centro do país, foi necessário suspender o fornecimento de água por tempo indeterminado, enquanto as equipes de reparo atuavam sob risco de novos ataques. A população respondeu com mobilização voluntária para doação de sangue, apoio a hospitais e reforço nas brigadas civis de evacuação. O clima geral é de tensão persistente e fadiga coletiva diante da escalada contínua da guerra.
Internacionalmente, a repercussão foi imediata. A Polônia colocou parte de sua força aérea em alerta máximo após detectar “atividade anormal” na região próxima a sua fronteira oriental. Caças foram deslocados para monitoramento preventivo de qualquer invasão ao espaço aéreo da OTAN. O chanceler alemão Olaf Scholz manifestou apoio à Ucrânia e defendeu o envio urgente de novos sistemas de defesa aérea, enquanto o presidente francês Emmanuel Macron reforçou que “a segurança do continente começa em Kiev”. Os Estados Unidos, por sua vez, reforçaram a retórica sobre a necessidade de aprovar novos pacotes de ajuda militar no Congresso, travados há semanas por disputas internas.
Do lado russo, o Ministério da Defesa afirmou que os ataques foram “cirúrgicos” e direcionados a “infraestruturas de apoio logístico e centros de comando ucranianos”. O Kremlin ignorou as denúncias sobre alvos civis e classificou as acusações como parte de uma “narrativa ocidental de guerra de propaganda”. O porta-voz Dmitry Peskov declarou que Moscou continuará com sua “operação militar especial” enquanto Kiev não aceitar as “condições mínimas de neutralidade e cessão territorial”. A retórica endurecida sugere que novos ataques devem ocorrer nos próximos dias, sobretudo enquanto o inverno se aproxima e compromete ainda mais a infraestrutura ucraniana.
O que dizem os especialistas?
Especialistas militares alertam que o padrão adotado pela Rússia representa uma mudança tática relevante. A combinação de drones kamikaze com mísseis balísticos e de cruzeiro forma uma matriz de ataque que exige respostas simultâneas e de múltiplas camadas. O uso de drones em grande escala, com origem a partir de Belarus e do mar Negro, impõe um desafio logístico às defesas ucranianas, que precisam reposicionar baterias antiaéreas constantemente. Isso eleva o custo operacional e o risco de falhas pontuais. O objetivo, segundo analistas do Instituto para o Estudo da Guerra, é enfraquecer a capacidade de resposta de Kiev e provocar desgaste psicológico na população.
Em Kiev, a prefeita interina Inna Borsuk afirmou que os serviços de saúde estão operando no limite da capacidade, especialmente no atendimento a traumas e queimaduras. Hospitais de campanha foram reativados e remanejamento de pacientes está em curso. O sistema de metrô segue funcionando como abrigo temporário, com suporte de ONGs e distribuição de alimentos. Escolas suspenderam aulas presenciais e empresas orientaram funcionários a adotar o trabalho remoto nos próximos dias. O governo local também reforçou campanhas públicas de preparo civil para novos bombardeios, incluindo a distribuição de kits de emergência e instruções para ações em caso de colapso da energia elétrica.
A população ucraniana, já acostumada à instabilidade, demonstra sinais de exaustão emocional e insegurança prolongada. O medo da chegada do inverno sem fornecimento estável de eletricidade e calefação tem mobilizado comunidades locais a estocar alimentos, água potável e combustível. Redes de solidariedade crescem em bairros populares, onde famílias compartilham recursos e abrigos. O número de deslocados internos voltou a subir, especialmente entre mulheres com filhos e idosos, o que pressiona os serviços sociais de municípios do interior. Há um temor real de que, se os ataques se intensificarem, ocorra uma nova onda migratória em direção ao oeste da Europa.
Se a escalada se mantiver e os aliados não conseguirem fornecer sistemas de defesa mais sofisticados a tempo, a Ucrânia enfrentará o inverno mais difícil desde o início da guerra. Por outro lado, se o país conseguir proteger parte de sua infraestrutura e manter viva sua rede logística, ainda poderá resistir à estratégia russa de desgaste prolongado. O que está em jogo agora não é apenas território, mas a capacidade de manter uma população sob ataque crônico em condições mínimas de dignidade. Nesse contexto, cada bomba não atinge só um alvo físico, mas compromete um elo da já frágil estrutura social ucraniana.